terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Um novo motorista volta a abalar a República




Agora, quem é alçado ao Olimpo político é Jair Bolsonaro, aquele que promete “mudar tudo isso daí” e livrar o País das velhas práticas políticas e corruptas institucionalizadas pelo PT. Antes mesmo da posse do presidente eleito, no entanto, um novo personagem parece repetir a história vivida por Fernando Collor. Em 1992, as páginas de ISTOÉ apresentaram ao Brasil certo motorista de confiança e uma espécie de faz tudo do então presidente e de sua família. Tratava-se de Eriberto França, que denunciou à época que o ex-tesoureiro da campanha de Collor Paulo César Farias bancava as despesas da família do presidente. A primeira evidência da história revelada por Eriberto foi justamente o aparecimento de um cheque para sua então mulher, Rosane Collor. Mais tarde, apareceram um automóvel, um Fiat Elba, e a reforma dos jardins da Casa da Dinda, residência da família Collor.
Vinte e seis anos depois, um motorista volta a balançar a vacilante República. E também com ele um depósito em nome da mulher de Bolsonaro, Michelle. Desta vez não é alguém que tenha trabalhado diretamente com o presidente eleito. Fabrício José Carlos de Queiroz era motorista e assessor do filho de Bolsonaro, Flávio. Em contrapartida, sua amizade e intimidade com Bolsonaro e sua família parece muito mais estreita. Ele não era apenas um funcionário, como Eriberto. Foi colega de tropa do presidente eleito no Exército e seu amigo íntimo, parceiro de churrascos e pescarias. Por razões que ainda precisam ser investigadas e esclarecidas, Queiroz emprestou sua conta bancária para o trânsito de altas somas de dinheiro depositadas por outros funcionários do gabinete de Flávio Bolsonaro. Parte desses recursos foi parar nas contas da mulher do futuro presidente.
Quem conheceu Queiroz recorda-se de uma pessoa simpática e loquaz, que contava e ria das piadas contadas por Bolsonaro. Desde que se tornou público o relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que detalha a entrada e saída de dinheiro da sua conta, Queiroz refugiou-se no silêncio. Submergiu. Não à toa. Os relatórios do Coaf são incontestáveis. Apontam que Fabrício efetuou movimentações atípicas da ordem de R$ 1,2 milhão durante o ano de 2016, um valor muito superior ao que recebia de proventos – R$ 8.517 mil no gabinete e R$ 23 mil no total, incluindo o salário como PM. As transações aconteciam imediatamente após os pagamentos de salários na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Por meio de sua conta, Queiroz recebia o repasse de outros funcionários. E sacava depois. As operações observavam um padrão. Entravam e saíam da conta num intervalo pequeno de tempo. Muitas vezes no mesmo dia. De acordo com o Coaf, só em 2016 o motorista efetuou ao menos 176 saques, 50 dos quais em quantias superiores a R$ 2 mil.

CAIXINHA PARLAMENTAR
O relatório anexado aos autos da Operação Furna da Onça, que resultou na prisão de dez deputados estaduais do Rio de Janeiro. O material foi produzido a pedido do Ministério Público Federal (MPF), que passou a investigar todas as comunicações de movimentações atípicas de pessoas nomeadas na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Flávio Bolsonaro não foi e ainda não é investigado sob suspeição de fatos ilícitos. Mas as movimentações de Queiroz realmente chamaram a atenção. Fontes ligadas ao MPF disseram a ISTOÉ que podem ser suficientes para fazer Flávio Bolsonaro vir a integrar o rol dos investigados. Queiroz deve prestar depoimento esta semana ao órgão para dar explicações. Afinal, segundo o que descreveu o Coaf, como um homem com vencimentos da ordem de R$ 23 mil poderia movimentar R$ 1,2 milhão em suas contas (algo em torno de R$ 100 mil ao mês)?
Segundo apurou ISTOÉ, a decisão de Queiroz de se isolar guarda relação com o seu visível abatimento. Tem se queixado da imprensa e não voltou a falar com Jair Bolsonaro, desde a eclosão do escândalo. Foi justamente Bolsonaro que o levou para trabalhar com o filho, Flávio, em 2007. Na quarta-feira 12, o presidente eleito usou as redes sociais para comentar a investigação contra Queiroz. Bolsonaro disse que “dói no coração” ver o amigo envolvido no caso. “Se tiver algo errado, que paguemos aí a conta deste erro”, afirmou o presidente eleito. Apesar de reconhecer publicamente a hipótese de haver algo de estranho no reino dos Bolsonaro, para quem se elegeu prometendo acabar com as práticas nefastas e corruptas de 14 anos de PT no poder, ainda é pouco o que o futuro mandatário do País declarou diante das câmeras.
Em caráter reservado, integrantes do Ministério Público do Rio de Janeiro dizem considerar que, no mínimo, se estaria diante de um caso típico de “caixinha parlamentar” ou “mensalinho”, no qual servidores devolvem parte do que ganham ao político que os emprega. Queiroz funcionaria como uma espécie de arrecadador. E sua conta-corrente seria uma espécie de “conta de passagem”. A dúvida é: para onde ia o dinheiro? Um caixa paralelo destinado a abastecer campanhas? Pagar contas pessoais? E Bolsonaro tinha conhecimento das operações? Tal qual o ex-presidente Collor em 1992, existe sim uma suspeita, ainda que incipiente, de que essa movimentação atípica do motorista possa ter beneficiado diretamente Bolsonaro e seus filhos. Integrantes da promotoria não descartam a possibilidade de a história ir parar no STF a partir do ano que vem, já que envolve pessoas com foro privilegiado. Para o MP, respostas mais consistentes só serão obtidas após a quebra de sigilo bancário e fiscal de Queiroz. A partir dali é que os integrantes do MP podem apurar o destino do dinheiro.
Queiroz, tal qual Eriberto, é um cidadão simples. Um brasileiro. Nascido em outubro de 1965, ele mora em um sobrado na região da Taquara, em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Sua casa é simples até para o padrão de quem recebe R$ 8,5 mil de vencimentos mensais. O sobrado em uma viela da Taquara, de casas geminadas, sequer possui tinta na parede externa na sua parte superior. A janela não tem esquadria nem vidro. Aparentemente, o imóvel está em reforma. Na mesma região de Jacarepaguá, há mansões que custam menos que o valor de R$ 1,2 milhão que Queiroz movimentou em sua conta.

Em 1992, o então motorista de Collor, Eriberto, fez revelações que ajudaram a aprofundar as investigações. Queiroz ainda precisa se pronunciar. E explicar o que de fato significa a movimentação de dinheiro nas suas contas. Espera-se ansiosamente pelas explicações. Que os deuses da história não preguem outra peça no Brasil.






Qual a situação de Queiroz, amigo de Bolsonaro, que faltou pela 2ª vez a depoimento ao MP-RJ?


O Ministério Público afirma que dará prosseguimento às investigações do caso enviando ofício ao presidente da Assembleia Legislativa intimando Flávio Bolsonaro "para que preste esclarecimentos acerca dos fatos" em 10 de janeiro. Como Flávio é deputado e foi eleito senador, tem a prerrogativa de mudar a data para uma que seja mais conveniente para ele.
O Ministério Público ainda não divulgou se pretende tentar ouvir Queiroz novamente e seu advogado disse que "talvez" ele possa prestar depoimento no dia 10 de janeiro.
Até junho deste ano, o MP podia requisitar condução coercitiva para que um suspeito fosse interrogado. No entanto, após o instrumento se tornar comum (foi usado mais de 220 vezes) durante as investigações da Operação Lava Jato, o STF decidiu em junho que condução coercitiva não pode mais ser usada para interrogatório. Segundo a corte, ela atenta contra o direito do investigado de não produzir provas contra si mesmo.
Sete outros assessores que passaram pelo gabinete de Flávio fizeram depósitos na conta de Queiroz, em valores equivalentes a saques realizados pouco depois. A maior parte desses depósitos coincide com as datas de pagamento na Alerj, segundo reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo.
Fonte:


Flávio Bolsonaro falta a depoimento

Brasil 

Como previsto, Flávio Bolsonaro não apareceu para depor hoje ao Ministério Público para explicar a movimentação atípica de R$ 1,2 milhão de seu ex-assessor Fabrício Queiroz. Explicou, via Facebook, que quer ter acesso aos papéis da investigação antes de falar.






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